"O grande responsável pela situação de desequilíbrio ambiental que se vive no planeta é o Homem. É o único animal existente à face da Terra capaz de destruir o que a natureza levou milhões de anos a construir"





sábado, 17 de agosto de 2013

Thapsia villosa L.

Nomes comuns:
Tápsia, Turbit-da-terra

Thapsia villosa é uma planta elegante e vistosa. Bastante comum na região mediterrânica ocidental pode ser encontrada no sul de França, Península Ibérica e norte de África. Coloniza bosques, matagais, taludes, orlas dos campos de cultivo e beira dos caminhos. É característica de solos pobres em nitrogénio e cresce em terrenos expostos ao sol; embora seja indicadora de secura moderada a verdade é que se desenvolve com maior exuberância em solos com um razoável teor de humidade; prefere os solos ácidos mas não desdenha os solos alcalinos.
Thapsia villosa é uma espécie perene cujas partes aéreas secam e morrem após a frutificação, para rebrotar na estação seguinte.
O caule praticamente sem folhas (geralmente reduzidas às bainhas), é ereto, robusto e finamente estriado, chegando a atingir quase 2 metros de altura sempre que se reúnam as condições ideais.
O caule é muito engrossado na base emergindo a partir de uma raiz grossa e alongada, de cor esbranquiçada, a qual se encontra profundamente enterrada no solo. Da raiz brotam também duas ou três grandes folhas, de cor verde escuro que formam uma roseta basal. Estas folhas estão cobertas de pelos em ambas as paginas, tal como sugere o nome da espécie (villosa).


As folhas têm contorno triangular e o limbo é tão profundamente recortado em segmentos de forma oblonga, que estes ficam apenas ligados pela nervura central.
Os segmentos, que podem ser simples ou subdividirem-se 2 ou mesmo 3 vezes, têm margens com pequenos recortes com a ponta curta e aguda mas sem ser rígida; quase sempre as margens dos segmentos são revolutas, ou seja, estão reviradas para a página inferior da folha. A nervura central de cada folha (ráquis), está densamente coberta de pelos sendo a pagina superior de cor verde enquanto a pagina inferior é de um tom acinzentado ou glauco (azulado).
As bainhas das folhas basais são largas e bem desenvolvidas, mostrando o seu interior esbranquiçado, por vezes com laivos de purpura.

 As flores, muito pequenas, são monoclínicas (=hermafroditas) pois possuem órgãos reprodutores femininos (gineceu) e masculinos (androceu), ambos funcionais; do androceu constam 5 estames e o gineceu apresenta estigma com dois estilos. O cálice é constituído por 5 sépalas incipientes e as corolas, com simetria radial, são formadas por igual número de pétalas, de um amarelo intenso.


As flores reúnem-se em inflorescências do tipo umbela em que os pedicelos das várias flores (denominados raios) são longos e aproximadamente do mesmo tamanho; como estão todos inseridos no mesmo ponto do pedúnculo, formam uma estrutura hemisférica semelhante a um chapéu de chuva aberto. De notar que as inflorescências da Thapsia villosa são compostas por pequenas umbelas (umbélulas) que se reúnem para formar umbelas maiores. Graças a esta estratégia, o impacto visual das pequenas flores perante os insetos polinizadores fica muito potenciado.

Geralmente a umbela que floresce na extremidade do caule principal é a maior. Por vezes as umbelas que crescem em ramificações laterais do caule podem gerar apenas flores masculinas, as quais, caso tal aconteça, são estéreis e secam prematuramente. Na Thapsia villosa as umbelas raramente apresentam brácteas e as umbélulas também poucas vezes têm bractéolas. O número dos raios é muito variável podendo ir de 6 a 29 por cada umbela.
A Thapsia villosa floresce a partir de março, sendo visitada por numerosos tipos de insetos atraídos pelas suas grandes inflorescências de cor amarelo brilhante. Em meados de junho já está em plena frutificação, caracteristicamente muito mais cedo que outras espécies da mesma família as quais continuam em flor até muito mais tarde.
Os frutos, maduros em agosto, tomam a forma oblonga sendo formados por duas partes perfeitamente ligadas entre si e que se separam na maturação; cada uma delas está provida de expansões laterais membranosas que ajudam na dispersão pelo vento.

A Thapsia villosa é altamente variável na sua morfologia. Registam-se duas variedades, a T. villosa var. villosa e a T. villosa var. dissecta. A diferença entre as duas variedades está basicamente no tamanho dos segmentos das folhas que, na variedade T.villosa dissecta são mais estreitos e também mais subdivididos. No entanto registam-se formas intermedias pelo que distinguir as duas variedades pode ser bastante complicado.

Thapsia villosa é uma espécie do género Thapsia o qual se inclui na família Apiaceae também denominada Umbelliferae. Esta é uma importante família botânica que engloba entre 2500 a 3700 espécies divididas entre 300 a 450 géneros, alguns deles de classificação duvidosa e seguramente sujeitos a revisão. É uma família de grande importância económica cujas espécies estão amplamente difundidas por todo o mundo com especial destaque para as regiões temperadas do hemisfério norte. Os óleos essenciais libertados por muitas das suas espécies têm especial interesse na medicina. Contudo a grande importância desta família vem do facto de incluir muitas espécies agrícolas, muitas das quais utilizamos na nossa dieta do dia a dia, nomeadamente a salsa Petroselinum crispum, a cenoura Daucus carota, o aipo Apium graveolens, o anis Pimpinella anisum, o endro Anethum graveolens, o funcho Foeniculum vulgare, os coentros Coriandrum sativum e os cominhos Cuminum cyminum, entre tantas outras. Ao mesmo tempo inclui plantas muito venenosas como sejam a cicuta Conium maculatum e o embude Oenanthe crocata.

A Thapsia villosa é uma espécie muito toxica, o que não impediu, em tempos idos, a sua utilização em medicina tradicional, aproveitando as suas propriedades e efeitos muito violentos como purgante e emético, através do ingestão do exsudado da raiz. Na realidade não se sabe muito sobre as propriedades terapêuticas desta planta mas parece que a sua raiz foi muito comercializada beneficiando do facto de ser confundida com a raiz da Ipomoea turpethum, espécie endémica da Índia e que era muito apreciada pelos seus suaves efeitos laxantes. O nome comum da Ipomea turpethum era "turbit", nome pelo qual a Thapsia villosa também ficou conhecida em Portugal.
Entretanto a Thapsia villosa var. villosa está a ser objeto, juntamente com outras espécies do mesmo género, de pesquisa e investigação medica pois, devido as suas características, poderá ser vir a ser útil no tratamento de doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer e Parkinson.

Fotos: Serra do Calvo/Lourinhã