"O grande responsável pela situação de desequilíbrio ambiental que se vive no planeta é o Homem. É o único animal existente à face da Terra capaz de destruir o que a natureza levou milhões de anos a construir"





sexta-feira, 23 de março de 2012

Lathyrus clymenum L.

Nomes vulgares:
Cezirão-das-torres; Chicharão; Chicharão-das-torres; Chicharão-trepador; Cizirão-das-torres; Cisirão-de-torres



Lathyrus clymenum é uma planta herbácea, do tipo trepadeira e de ciclo anual. Os caules ramificam-se na base e são alados, sem pelos, podendo crescer até aos 90 cm.



As folhas basais são lineares e não tem folíolos; as medias e superiores com 2 a 4 pares de
folíolos estreitos de forma elíptica ou lanceolada, terminam numa gavinha ramificada.

As duas estipulas que se podem ver na base das folhas são lineares ou ovadas.



A estrutura das flores assemelha-se, na forma, a uma borboleta e é característica das Papilionaceae, subfamilia das Fabaceae, à qual pertence a Lathyrus clymenum.


Assim, a corola é formada por 5 pétalas desiguais, dispostas de modo característico e altamente especializado para atrair os insetos polinizadores: a pétala maior chamada estandarte, de cor vermelha, situada em posição superior é, pelo seu tamanho e forma, o foco de atração para os polinizadores; as duas pétalas laterais denominadas asas, de cor lilás, funcionam como pista de aterragem; e as duas inferiores, unidas apenas no ápice, formam a chamada quilha.

A flor possui órgãos de reprodução femininos (carpelo = ovário, estilete e estigma) e masculinos (estames) os quais estão encobertos pelas pétalas que formam a quilha. Quando os insetos pousam nas asas, a quilha baixa e dessa forma é favorecido o contacto do insecto com os estames e o estigma, levando o pólen colado ao corpo.


A planta floresce e frutifica de Março a Julho. Os frutos são vagens com 4 a 7 sementes arredondadas as quais são tóxicas se ingeridas em grande quantidade.


A Lathyrus clymenum distribui-se pelo sul da Europa, Turquia e também pelos territórios da Macaronésia com excepção de Cabo Verde. Em Portugal é muito comum em terrenos baldios, margens de caminhos e pequenos bosques, muitas vezes apoiando-se noutras plantas para melhor trepar.



A espécie Lathyrus clymenum está incluída no género Lathyrus que por sua vez pertence à família das Fabaceae (também denominada Leguminosae), uma das maiores famílias botânicas e cujas espécies estão largamente distribuídas por todos os continentes, com exceção da Antártida. Esta família, que inclui cerca de 730 géneros e mais de 19000 espécies tem como característica comum o fruto em forma de vagem, particularidade que é exclusiva deste grupo.



As Fabaceae/Leguminosae subdividem-se em três subfamílias com características morfológicas muito distintas (geralmente identificáveis através do tipo de flor), sendo que a Faboideae ou Papilionoideae, à qual pertence a Lathyrus clymenum é a que tem maior importância económica a nível mundial pois inclui espécies fundamentais na alimentação humana como sejam a soja, o feijão, o amendoim, o grão-de-bico, o tremoço, as ervilhas ou as favas, apenas para mencionar as mais conhecidas.

Na generalidade, são plantas de hábitos variados podendo ser herbáceas, trepadeiras, arbustos ou árvores. Muitas espécies são também utilizadas como ornamentais, outras têm grande valor comercial ou industrial devido aos produtos que delas podem ser extraídos, nomeadamente o tanino, substância usada na indústria do couro, já para não falar dos corantes, tinturas, colas, vernizes etc.
Uma característica muito importante das leguminosas em geral e das espécies da subfamília Papilionoideae/Faboideae em particular, é o facto de serem capazes de converter o nitrogénio atmosférico (azoto) em moléculas proteicas as quais são aproveitadas pela própria planta para seu desenvolvimento e o das plantas em seu redor. Isto acontece devido a uma relação simbiótica com bactérias dos géneros Bradirhizobium e Rhizobium que se fixam nas raízes das leguminosas através de nodosidades, visíveis a olho nu. Em contrapartida, as bactérias recebem das plantas os açúcares produzidos durante a fotossíntese. Esta simbiose permite não só a sobrevivência das referidas bactérias mas também que espécies de leguminosas possam desenvolver-se sem problemas em solos pobres em azoto e matéria orgânica.

Aconselham as boas práticas ecológicas que se aproveitem os benefícios oferecidos pela natureza pelo que quando as leguminosas são colhidas convém deixar as suas raízes (ricas em nitrogénio) no solo pois vão contribuir para o enriquecer. Aliás, na agricultura moderna há quem prefira utilizar adubos verdes para enriquecer o solo, em detrimento dos adubos químicos. Este processo consiste em cultivar leguminosas de crescimento rápido, as quais são cortadas e enterradas no mesmo local, antes de florescerem e criarem sementes. Esta prática promove o enriquecimento do solo com azoto e outros nutrientes, além de melhorar a estrutura dos terrenos, protegendo-os da seca e limitando o desenvolvimento das ervas daninhas.

Sobre o género Lathyrus e o chícharo:
Ao género Lathyrus, no qual está incluída a espécie Lathyrus clymenum, pertencem cerca de 160 espécies nativas de zonas temperadas das quais 52 são espécies europeias. Algumas são espécies espontâneas mas outras são cultivadas quer para uso ornamental tal como a Lathyrus odoratus (ervilha-de-cheiro) quer para alimentação humana como é o caso da Lathyrus sativus (vulgarmente chamada chícharo), leguminosa muito semelhante ao tremoço, saborosa e muito nutritiva.

A Lathyrus sativus tem sido consumida quer por humanos quer por animais em várias regiões do globo desde tempos imemoriais e continua a ser muito importante em áreas onde impera a seca e a fome pois é uma espécie de fácil propagação e cultivo, podendo tornar-se quase infestante.


O chícharo foi muito consumido em Portugal até meados do século passado, quando a fome grassava no país, principalmente por ser uma fonte de proteínas obtida por bom preço. Embora muito apreciado o chícharo estava relacionado com a pobreza das gentes e à medida que o nível de vida foi melhorando, foi sendo substituído por outros alimentos, numa tentativa para esquecer os tempos de escassez. Entretanto, parece que voltou a saudade do sabor dos chícharos e assim registam-se algumas louváveis tentativas no sentido de recuperar o lugar que lhe pertence no nosso património gastronómico.

Todas as espécies do género Lathyrus são tóxicas. As sementes do chícharo, Lathyrus sativus, contêm toxinas que podem ser as causadoras de uma doença neurodegenerativa que causa paralisia dos membros inferiores, o latirismo, a qual foi detectada em países onde no século passado ocorreu a fome, como por exemplo França, Alemanha e Espanha. Hoje em dia esta doença ainda é registada em países do terceiro mundo onde a fome leva a que as sementes de Lathyrus sativus sejam praticamente a única fonte de proteínas e assim sendo, consumida por longos períodos.

Fotos: Arribas da Praia do Caniçal / Lourinhã



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